José Carlos Brandi Aleixo

Professor Emérito da Universidade de Brasília

Acadêmico do IHG-DF – Cadeira nº 72

Patrono: Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota

Muitas das obras de Juscelino Kubitschek, no exercício dos cargos executivos de Prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), de Governador de Minas Gerais (1951-1955) e de Presidente da República (1956-1961), podem ser admiradas visivelmente. São exemplos o bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, a usina de Mannesman em seu estado e Brasília, nova capital do país inaugurada em 21 de abril de 1960. Mas também muitas outras iniciativas suas, menos citadas, merecem destaque. Este é o caso da Operação Pan-Americana.

Antes de 1958, as palavras “pan-americano e pan-americana” aparecem com frequência na história. Há entidades como União Pan-Americana, Organização Pan-Americana de Saúde, Instituto Pan-Americano de Geografia e História. O artigo 52, nº 1, da Carta da ONU, de 26 de junho de 1945, assim reza: “Nada na presente carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais…”. Como os Estados Unidos seriam parte importante dos entendimentos, o termo “pan-americana” era o mais adequado para a iniciativa.

O vocábulo “operação”, frequentemente, designa complexo de meios combinados para a consecução de determinado resultado. Trata da transformação de ideias e objetivos em fatos concretos. Como Governador de Minas Gerais Juscelino Kubitschek pela Operação Ouro Preto tomou na histórica cidade decisões importantes para particular benefício da região. Em abril de 1958 ele visitou o Ceará e testemunhou o pungente sofrimento da população, vítima de calamitosa seca. Com a colaboração de Celso Furtado, Orlando Ramagem, Sette Câmara e de muitos outros lançou a Operação Nordeste, que teria prioridade semelhante à de Brasília.[1]

Plano Marshall. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) causou — particularmente na Europa — as mais desastrosas e numerosas perdas de vidas humanas e de bens materiais. Entre as várias iniciativas para a reconstrução da Europa sobressai o Plano Marshall. Há entre ele e a Operação Pan-Americana significativas semelhanças. Em 5 de junho de 1947 o Secretário de Estado, General George Marshall, falando em solenidade de formatura em Harvard, ofereceu ajuda norte-americana àquelas nações europeias que acordassem coordenar seus esforços de recuperação e apresentar aos Estados Unidos um programa de especificações de suas necessidades. Marshall ofereceu o plano aos países europeus indistintamente, mas os do Leste não o aceitaram. O nome oficial dele era Programa de Recuperação Europeia. Era uma luta frontal contra “a fome, a pobreza, o desespero e o caos que assolavam os países europeus”.

Dezesseis países da Europa formaram a Organização para a Cooperação Econômica Europeia (OCEE) e, em setembro de 1947, apresentaram aos Estados Unidos um Informe objetivando alcançar, por 1951, uma economia europeia auto suficiente a um custo aproximado de U$ 19,3 bilhões. Os EUA enviaram cerca de treze bilhões de dólares. A ajuda terminou em 1951. Em 1961 a OCEE foi substituída pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).[2]

COMECON. Em 1949, reunidos em Moscou, Bulgária, Hungria, República Democrática da Alemanha (Alemanha Oriental), Mongólia, Tchecoslováquia e União Soviética formaram o Conselho de Assistência Econômica Mútua (COMECON).

Bandung. De 18 a 24 de abril de 1955 representantes de 29 países da África e da Ásia reuniram-se na cidade indonésia de Bandung para promover a cooperação mútua e lutar contra o colonialismo.[3]

Comunidade Econômica Europeia. Pelo Tratado de Roma de 25 de março de 1957, assinado pela República Federativa da Alemanha (Alemanha Ocidental), Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, formou-se a Comunidade Econômica Europeia.

América. Na luta pela independência e pela cooperação entre os países da América avulta o Libertador Simón Bolívar. Pela Circular de Lima, de 7 de dezembro de 1824, ele convocou países recém emancipados para um Congresso no Panamá. Almejava-se consolidar a autonomia e promover a cooperação. Em 1889-1890, na Primeira Conferência Internacional Americana, reunida em Washington, D.C., criou-se um organismo regional que ampliaria crescentemente suas funções.

Em 15 de agosto de 1947, no Hotel Quintandinha, da cidade de Petrópolis, vizinha da Capital Federal, representantes dos países americanos elaboraram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), conhecido também como o Tratado do Rio de Janeiro. Muitos latino-americanos sentiram-se frustrados porque nesse Congresso não se elaborou um programa destinado a promover o desenvolvimento econômico e social da região. A ênfase foi a da segurança e do combate ao comunismo.

Em 20 de abril de 1948 a IX Conferência Internacional Americana aprovou, em Bogotá, a Carta da Organização dos Estados Americanos. Nas comemorações do décimo aniversário da OEA, o internacionalista Carlos Sans de Santamaria advogou a criação de um “Tratado Interamericano de Assistência Econômica”[4]. Ciente do fato, o Presidente Juscelino Kubitschek providenciou um avião que o trouxesse da capital colombiana, para conversar com ele sobre a Operação Pan-Americana em gestação. Por motivo de força maior, ele não pôde efetuar essa viagem.

Brasil e Argentina. Em julho de 1956, durante o Primeiro Encontro de Chefes de Estado da América, na cidade do Panamá, os Presidentes da Argentina, General Pedro Eugenio Aramburu, e do Brasil, Juscelino Kubitschek, tiveram oportunidade de conversar. Os dois mandatários no mesmo mês encontraram-se no Rio de Janeiro.[5]

Em 8 de abril de 1958, Arturo Frondizi, recém eleito Presidente da Argentina, e Juscelino Kubitschek reuniram-se no Rio de Janeiro. Eles compartilhavam anseios de desenvolvimento e comuns propósitos de promovê-lo em clima político-democrático.

Evitando os rígidos procedimentos hierárquicos, Juscelino Kubitschek — responsável maior pela política externa do país —, sem a mediação de seu Chanceler José Carlos de Macedo Soares, em maio de 1958, chamou ao Rio de Janeiro o diplomata brasileiro Mário Gibson Barbosa, que era Encarregado de Negócios do Brasil em Buenos Aires. Incumbiu-o de dar conhecimento ao Presidente Arturo Frondizi do pronunciamento que faria. Em audiência, Gibson Barbosa mostrou a Frondizi o texto. O primeiro mandatário argentino manifestou seu agrado.[6]

Estados Unidos. Em 1958 havia grandes diferenças entre as medidas propostas pelos Governos dos Estados Unidos e de países da América Latina para promover o progresso e a maior colaboração entre eles. Washington preconizava a necessidade “prévia” dos países da América Latina de “colocar a casa em ordem”, subjugando a inflação, adotando o equilíbrio entre os recursos disponíveis e os gastos, eliminando despesas supérfluas, etc. Juscelino Kubitschek, sem impugnar tais medidas, advogava que elas deveriam ser acompanhadas por iniciativas de promoção do progresso e do desenvolvimento. Cabia aos países prósperos contribuir pela estabilidade dos preços de “commodities”, pela compra de produtos com valores agregados, etc.

Em 1958, em vários países latino-americanos, estavam no poder governos democraticamente eleitos. São exemplos os de Rómulo Betancourt, na Venezuela (após longa ditadura de Marcos Perez Jimenez); Arturo Frondizi, na Argentina; Manuel Prado, no Peru; e Alberto Lleras Camargo, na Colômbia.

Momento e motivo certos da Operação Pan-Americana. Vale ressaltar que, em maio de 1958, Juscelino Kubitschek encontrava-se em período particularmente propício para iniciativas governamentais importantes. Durante os primeiros 28 dos 60 meses de seu frutuoso mandato, Juscelino Kubitschek superou difíceis crises políticas como a causada pela rebelião de oficiais da Aeronáutica, em Jacareacanga. Em maio de 1958, em clima democrático, ocorriam as campanhas para as eleições de outubro do mesmo ano.

Os agravos sofridos pelo Vice-Presidente Richard Nixon, em Lima e em Caracas, em maio de 1958, provocaram sérias reflexões sobre o estado das relações entre Estados Unidos e a América Latina e as providências pertinentes para alterá-las. É neste contexto que surge a Operação Pan-Americana.

Em 4 de outubro de 1957 a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial da terra, o Sputnik. Foi muito grande o impacto da notícia nos Estados Unidos e na América Latina.

Os Estados Unidos abriram seus mercados para as exportações africanas de café e outros produtos tropicais. O Ministro da Fazenda, José Maria Alkmin, propugnou o reatamento das relações comerciais e diplomáticas com a União Soviética, rompidas em 1947.

Como, anteriormente, muitos Presidentes brasileiros, eleitos, mas não ainda empossados, Juscelino Kubitschek viajou ao exterior. Ele e sua comitiva aterrissaram em 5 de janeiro de 1956 no Aeroporto Naval da Boca Chica, na Flórida. Deslocou-se até a vizinha Base Naval de Key West onde Einsenhower convalescia de um enfarte. No encontro o General ventilou tópicos como: infiltração comunista no continente; disponibilidade de companhias norte-americanas para a exploração do petróleo; inflação e desequilíbrio nos pagamentos internos. Juscelino Kubitschek ressaltou que o melhor antídoto para o comunismo consistia no desenvolvimento social e robustecimento das instituições democráticas.[7]

Ainda em janeiro de 1956, da Flórida, Juscelino Kubitschek foi a Washington, D.C. Discursou no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos. Preconizou a necessidade de que “o pan-americanismo, para manter seu sentido essencial, se traduzisse em formulas de cooperação econômica e social mais intensas e vitais”.[8]

De 19 a 24 de julho de 1956 realizou-se, na cidade do Panamá, a primeira Reunião de Presidentes da América. Celebrava-se o 130º aniversário do histórico Congresso Anfictiônico do Panamá, convocado pelo Libertador Simón Bolívar por sua Circular de Lima de 7 de dezembro de 1824. No dia 20 Juscelino Kubitschek fez breve visita de cortesia ao Presidente Einsenhower. Por solicitação dele, os dois chefes de Estado reuniram-se no dia 23.

Augusto Frederico Schmidt, assessor de Juscelino Kubitschek, entendeu que as manifestações em maio de 1958, em Lima e Caracas, contra o Vice-Presidente Nixon provocariam na Casa Branca um exame das relações dos Estados Unidos com o Brasil. Assim, sugeriu a Juscelino Kubitschek que escrevesse uma carta ao Presidente Einsenhower.[9]

Repisava-se a ideia de que o comunismo não era a causa dos transtornos políticos na América Latina, mas consequência das vicissitudes sociais existentes.

A carta almejava granjear recursos para projetos de desenvolvimento e assegurar boas relações com os Estados Unidos, que seriam a fonte dos recursos para o ousado plano. A missiva foi levada a Washington, D.C. por Vítor Nunes Leal. Excepcionalmente, Einsenhower recebeu, em audiência, o Embaixador Amaral Peixoto. Estava presente a ela também o Subsecretario Roy Rubottom. O presidente leu a carta. Informou que escreveria aos Chefes de Estado do Continente sobre a proposta de Juscelino Kubitschek. Em 10 de junho de 1958 escreveu Einsenhower resposta ao Presidente do Brasil, levada a ele pelo Sub Secretário Roy Robottom Jr. Anunciava que o Secretário de Estado John Foster Dulles iria ao Brasil para conversar a respeito. Juscelino Kubitschek frisou que só o desenvolvimento econômico do Brasil e da América Latina estreitaria os laços entre ela e os Estados Unidos. Foi proposto o nome de Operação Pan-Americana. O apoio de Washington era fundamental para seu êxito. Os Chefes das missões diplomáticas latino-americanas no Brasil homenagearam Juscelino Kubitschek com um almoço no Copacabana Palace Hotel.

Integraram o Grupo de Estudos Econômicos da Operação Pan-Americana representantes do EMFA e dos ministérios militares. Cogitou-se de um aporte de U$ 3,1 bilhões até 1967, para projetos de desenvolvimento. A dívida deveria ser solvida a partir de 1970 com juros fixos de 4,25% ao ano.[10]

Em 4 de agosto de 1958 John F. Dulles, após desembarcar no Rio de Janeiro, seguiu logo para audiência com Juscelino Kubitschek no Palácio das Laranjeiras. Em outra carta entregue a Juscelino Kubitschek escreveu:

Solicitei ao Secretário Dulles que lhe assegurasse o meu constante interesse pessoal pelas suas recentes propostas construtivas, no sentido de buscar, juntamente com as outras Repúblicas americanas, meios de fortalecer e de unificar ainda mais a comunidade americana[11].

Houve uma manhã de conversações. Dulles ainda insistiu em medidas contra o comunismo. Juscelino Kubitschek preconizou a prioridade do combate ao subdesenvolvimento, que englobava numerosos problemas: pobreza, analfabetismo, enfermidades, falta de moradias, desemprego, escassez de escolas, etc. Cada parte preparou uma minuta da Declaração Conjunta a ser subscrita por Foster Dulles e o Chanceler Negrão de Lima. Com os pontos comuns nos dois textos, se definiu a Declaração.

Em 23 de fevereiro de 1960 Einsenhower chegou a Brasília para uma visita de 72 horas ao país. Externou sua admiração pelo que viu na construção da futura capital: “Esta cidade excedeu todas as minhas expectativas. É uma inspiração”.[12] Juscelino Kubitschek, em várias oportunidades, falou com ele sobre a Operação Pan-americana e, inclusive, de certa resistência a ela em vários escalões da hierarquia norte-americana. Einsenhower manifestou surpresa, mas prometeu maior colaboração de seu país à importante iniciativa.

Implementação e efeitos da OPA. A Operação Pan-americana muito deveu aos que trabalhavam com Juscelino Kubitschek na sua elaboração e implementação. Ele estabeleceu equipe de assessores escolhidos que dispunham de maior autonomia e de acesso mais fácil a ele. Seria uma “diplomacia paralela”. Compunham-na Augusto Frederico Schmidt, Sette Câmara, João Paulo do Rio Branco, Araújo Castro, Alfredo Valladão, Mozart Gurgel Valente e Celso Souza e Silva.[13]

Eram inspiradoras as ideias do “direito inalienável ao progresso” e da associação estreita entre desenvolvimento e segurança econômica geral.[14]

A Organização dos Estados Americanos foi indicada como foro para debater a proposta brasileira. Um Comitê de alto nível — o Comitê dos 21 — assumiria a dimensão político-diplomática do projeto. Os planos financeiros caberiam ao Conselho Interamericano Econômico e Social, órgão da OEA.

Em setembro de 1958, em reunião informal de chanceleres em Washington, D.C., criou-se o Comitê dos 21. Congregou-se ele seguidamente em Washington, D.C., Buenos Aires e Bogotá. Estabeleceu-se um Grupo de Trabalho de 15 países a fim de preparar projetos concernentes a financiamento, comércio exterior, mercado comum, assistência técnica e produtos de base.

A Reunião dos 21 em abril de 1959 em Buenos Aires trabalhou na estruturação da Operação Pan-Americana. A composição dos delegados era de nível bem elevado. A Conferência foi inaugurada com discurso do Presidente Frondizi. Apregoou a urgência de elevar o nível de vida dos países da América Latina. O delegado norte-americano Thomas Mann expôs doze medidas concretas do apoio de seu país à Operação Pan-americana, entre as quais: anuência completa à criação do Banco Interamericano de Desenvolvimento; aumento de 2 bilhões de dólares no capital do Eximbank; endosso dos Estados Unidos ao projeto de estabelecimento do mercado comum. Fidel Castro pleiteou auxílio de 30 bilhões de dólares por parte dos Estados Unidos. A ALALC nasceu em 18 de fevereiro de 1960 pelo Tratado de Montevidéu.

Na resenha de seu governo, ressaltou Juscelino Kubitschek: “a ideia central do desenvolvimento criou nova era na atividade do Itamaraty. Dela derivou a Operação Pan-americana lançada em maio de 1958 e que, tendo como fim essencial a erradicação do subdesenvolvimento, representa o esforço conjugado de 21 nações deste continente para dar substancia econômica ao pan-americanismo, já consolidado no que concerne à defesa dos ideais políticos e jurídicos do continente”.[15]

BIBLIOGRAFIA[16]

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“VISITA do Secretário de Estado J. Foster Dulles”. Revista Brasileira de Política Internacional. Rio de Janeiro, ano 1, nº 4, p. 128-137, dez. 1958.

ANEXO[18]

 

CARTA DO PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK AO PRESIDENTE DWIGHT D. EISENHOWER

 

Rio de Janeiro, 28 de maio de 1958,

 

Excelentíssimo Senhor:

Dwight D. Eisenhower

Presidente dos Estados Unidos da América

 

Senhor Presidente,

 

Venho levar a Vossa Excelência, em nome do povo brasileiro e no meu próprio, a expressão de solidariedade e estima, que se impõe em face das agressões e dissabores sofridos pelo vice-presidente Nixon, na sua recente viagem aos países latino-americanos.

A reação — que se seguiu aos atos reprováveis contra a pessoa do bravo e sereno senhor Nixon, por parte dos Governos e da opinião pública das próprias nações que foram teatro de tão lamentáveis ocorrências – prova que partiram, as referidas manifestações, de simples minorias.

Mas assim mesmo, senhor presidente, não é possível esconder que, diante da opinião mundial, a ideia da unidade pan-americana sofreu sério prejuízo. Não pode deixar de resultar — das desagradáveis ocorrências, que tanto deploramos — a impressão de que nos desentendemos no nosso continente. A propaganda dos interessados no antiamericanismo, naturalmente, procura agora converter esses supostos desentendimentos numa incompatibilidade, mesmo numa inimizade entre os países livres da comunidade americana, o que, felizmente, está bem longe de se verificar. Parece-me, senhor presidente, que não é conveniente e, principalmente, que não é justo que perdure essa impressão que enfraquece moralmente a causa da democracia, em cuja defesa estamos empenhados.

Neste momento em que escrevo a Vossa Excelência, não tenho outro intento que o de levar-lhe a minha convicção de que algo necessita ser feito para recompor a face da unidade continental. Não tenho plano detalhado para esse objetivo, mas ideias que, posteriormente, poderei expor a Vossa Excelência, se a ocasião se apresentar. Permita-me Vossa Excelência que lhe adiante, porém, que a hora soou de revermos fundamentalmente a política de entendimentos deste Hemisfério e procedermos a um exame do que se está fazendo em favor dos ideais pan-americanos, em todas as suas implicações. Estaremos todos nós — é a hora de perguntar — agindo no sentido de se estabelecer a ligação indestrutível de sentimentos e interesses que a conjuntura grave aconselha e recomenda?

Soldado que conduziu a Democracia à vitória, homem de Estado, Vossa Excelência estará em condições, como nenhum outro, de apreciar a gravidade da pergunta que lhe formuło, na intenção exclusiva de delimitar, para logo depois extinguir, uma série de incompreensões que, neste momento, são facilmente sanáveis — mas que podem crescer, se não lhes dermos a devida atenção. As contrariedades suportadas pelo vice-presidente Nixon devem ser utilizadas em favor de uma nobre tarefa, no sentido de criarmos algo de mais profundo e duradouro em prol de nosso destino comum.

Como já disse a Vossa Excelência, é aconselhável corrigirmos a fałsa impressão de que não estamos vivendo fraternalmente nas Américas: mas além dessa operação corretiva e, para que ela seja duradoura e perfeita, devemos proceder a um verdadeiro exame de consciência em face do pan-americanismo, e saber se estamos no bom caminho. Estou certo de que Vossa Excelência avaliará que esta carta eu a escrevo inspirado nos melhores e mais sinceros sentimentos fraternos que sempre ligaram o meu país aos Estados Unidos e também apoiado em ideias que foram emitidas por vossa excelência no nosso encontro no Congresso Pan-Americano no Panamá.

Deus guarde a pessoa de Vossa Excelência e o povo norte-americano.

 

(a) Juscelino Kubitschek

 

RESPOSTA DO PRESIDENTE DWIGHT D. EISENHOWER[19]

 

Caro Sr. Presidente. Hoje de manhã, seu Embaixador entregou-me a carta escrita por Vossa Excelência na data de 28 de maio. Achei-a de extremo interesse.

Na minha opinião, Vossa Excelência caracterizou de maneira exata tanto a situação atual como a conveniência de medidas corretivas. Estou, por isso mesmo, encantado de que Vossa Excelência haja tomado a iniciativa neste assunto.

Como Vossa Excelência não adiantou um programa específico para fortalecer a compreensão pan-americana, parece-me nossos dois Governos devam entrar em entendimentos, no mais breve prazo possível, no tocante às consultas a serem dirigidas aos demais membros da comunidade pan-americana e à adoção imediata de medidas que determinem, através de todo o continente, uma reafirmação de devotamento ao Pan-Americanismo e um melhor planejamento na promoção dos interesses comuns e do bem-estar de nossos diferentes países. Existe uma vasta Gama de assuntos a serem discutidos e analisados, inclusive, por exemplo, o problema de uma execução mais completa da Declaração de Solidariedade da Decima Conferência Interamericana realizada em Caracas em 1954.

Considero este assunto tão importante que estou dando instruções a sr. Roy Richard Rubotton Junior, Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Americanos, para entregar-lhe pessoalmente minha carta no Rio de Janeiro e, em conversa com V. Exa., melhor colher o seu pensamento sobre esses problemas. Suas ideias e pensamentos, assim registrados em primeira mão, poderão ser objeto de novos entendimentos, através das vias diplomáticas ordinárias, antes da futura visita do Secretário de Estado ao Brasil. Caso Vossa Excelência esteja de acordo, o Senhor Rubotton acertará com o seu Governo a época mais propícia para a viagem do Secretário Dulles.

Com a segurança de minha mais alta consideração e com os melhores votos pela felicidade pessoal de Vossa Excelência e pelo bem-estar do povo brasileiro, sou, de Vossa Excelência,

Sinceramente (a.)

Dwight D. Eisenhower.

[1] BOJUNGA, Cláudio. JK o Artista do Impossível. Rio de Janeiro. Objetiva, 2001, p. 517-523.

[2] PRATTS, Julius. A Historyof United StatesForeignPolicy. SecondEdition. EnglewoodCliffs, New Jersey: Prentice Hall Inc., 1965, p. 461-462.

[3] GUITARD, Odette. Bandoung et Le Réveil des Peuples Colonisés. Paris: Presses Universitaires de France, 1969, 126 p.

[4] SANZ DE SANTAMARIA, Carlos. Interamericanismo Contemporâneo – Reminiscencias. Santa Fe de Bogotá: Academia Colombiana de Historia, Plaza &Janés, 1985, p. 50.

[5]Sr. AruturoFrondizi, Presidente Eleito da República da Argentina. Rio de Janeiro: Câmara dos Deputados, 1958.

[6] BARBOSA, Mário Gibson. Na Diplomacia o Traço Todo da Vida. Rio de Janeiro: Record, 1992, cap. 3 (“A Operação Pan-Americana e a Argentina”), p. 47-61.

[7] BOJUNGA, Cláudio. Op. cit. p. 328. Cabe assinalar que, em 1946, Juscelino Kubitschek era parlamentar federal quando Einsenhower foi recepcionado na Câmara dos Deputados.

[8] KUBITSCHEK, Juscelino. 50 anos em 5. Meu caminho para Brasília. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1978, p. 62.

[9] BOJUNGA, Cláudio. Op. cit. p. 505.

[10] BOJUNGA, Cláudio. Op. cit. p. 150.

[11] KUBITSCHEK, Juscelino. Op. cit. p. 227-229.

[12] KUBITSCHEK, Juscelino. Op. cit. p. 327-329.

[13] Idem, Ibidem. p. 508.

[14] BOJUNGA, Cláudio. Op. cit. p. 507-516.

[15] BRASIL. Presidência da República. Resenha do Governo Presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961). Rio de Janeiro: Presidência da República, [1960], tomo I, p. 166-167. Os progressos sobre o entendimento da “Democracia Representativa” aparecem na Declaração de Santiago, Chile, redigida em 18 de agosto de 1959, durante a Quinta Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores da OEA. FENWICK, Charles. The Organization of American States. The Inter-American Regional System. Washington, D.C.: Kaufmann, 1963, p. 370-371.

[16] A bibliografia a respeito da Operação Pan-Americana é copiosa. O ponto de partida necessário são os discursos, as entrevistas, as mensagens enviadas ao Congresso Nacional e a autobiografia do Presidente Juscelino Kubitschek. A Revista Brasileira de Política Internacional, fundada pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais em 1958, no Rio de Janeiro, sob a clarividente direção de Cleantho de Paiva Leite, acompanhou, com relevantes documentos e artigos, os inícios e a evolução da Operação Pan-Americana. O Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro publicou abiografia de muitos dos protagonistas da Operação Pan-Americana. ABREU, Alzira Alves (Coord.) et al. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, 5 vols. Os Anais da Câmara dos Deputados registraram vários pronunciamentos de membros seus sobrea Operação Pan-Americana. São exemplos: em 1958, Fernando Ferrari, Georges Galvão, Hugo Napoleão, Bruzzi Mendonça, Pedro Braga, FrotaAguiar, SérgioMagalhães,Rogê Ferreira, Afonso Arinos de Melo Franco, Carlos Lacerda, Newton Carneiro e Cid Carvalho, Abguar Bastos, Mário Guimarães; em 1959, Hermógenes Príncipe, França Campos, Valdir Pires, Domingos Velasco, Cid Carvalho, Neiva Moreira, Seixas Dória, Lycio Hauer, San Thiago Dantas, Josué de Castro, Clemens Sampaio e Coutinho Cavalcante; em 1960, Oliveira Franco, Colombo de Souza e Fernando Ferrari.

[17] Foi Ministro de Relações Exteriores da Colômbia em 1961 e 1962. Há no livro citado longo capítulo sobre a Operação Pan-americana.

[18] KUBITSCHEK, Juscelino. 50 anos em 5. Meu caminho para Brasília. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1978, p. 210-212.

[19]Anais da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro, vol. 10, p. 359, Seção em 11 jun. 1958.

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