Pedro Jorge de Castro Prof. da Universidade de Brasília – Doutor em Comunicação – Jornalista.
Presidente do Centro Cultural de Ciências da Natureza Luiz Cruls
Acadêmico do IHG-DF – Cadeira n º 07 – Patrono Luiz Cruls

 

A história das cidades como forma de habitação aglomerada talvez tenha surgido a quinze mil anos atrás. O ramo encarregado do estudo da evolução das cidades se chama história urbana. Foi nos assentamentos permanentes que apareceram os serviços e ocupações especializadas como o comércio, o armazenamento de alimentos e a mão de obra do artesão que fazia objetos e pequenos reparos. Neste espaço apareceu também o poder e com ele a organização da convivência, a urbanidade.

As primeiras cidades surgiram na Mesopotâmia, às margens do Nilo, uma delas chamada Ur, na Civilização do Vale do Indu, Jericó e Xian na China. Estas cidades são fruto da união de populações de assentamentos. Elas se juntaram a procura de proteção e para o escambo de produtos e serviços variados.

Mas somente após o domínio da agricultura e da domesticação de animais para a pecuária, há treze mil anos e estes fatores interagindo entre si, criaram as condições para o aparecimento das cidades, fixando o homem e ensejando o desenvolvimento e a organização primitiva dos espaços urbanos. A segurança alimentar favoreceu o crescimento da população e as áreas urbanas tornaram-se cada vez maiores.

Outro fator importante que permitiu as cidades ganharem forma urbana foi o surgimento das fortificações feitas pelos senhores feudais com o objetivo de proteger seus bens e resguardar suas vidas. Posteriormente os senhores feudais, isolados e encastelados, passaram as tais fortificações para as mãos da primeira classe social para a qual o trabalho era um valor: a burguesia, que passou a governá-las através de Comunas (hoje prefeituras). Estas são as bases das cidades tradicionais que conhecemos ainda hoje.

A expansão dos espaços urbanos, o aumento da produção de alimentos, de materiais e serviços definiu a organização do espaço urbano primitivo. Foi neste momento que se demarcou áreas de circulação. A tal da área de circulação, dita rua – vem do latim, ruga (no chão) – caminho e depois via margeada por casas, é uma concessão ao serviço comum. Mas entre as casas e a via, foi necessário definir um caminho destinado à circulação de pedestres, quase sempre mais alto que se chama passeio ou calçada.

Grandes caminhadas e grandes deslocamentos podem acontecer somente em países com grandes territórios. O Brasil sempre foi palco de grandes caminhadas. As expedições chamadas de Entradas e Bandeiras, vindas de São Paulo, de Minas Gerais e Brasil a dentro fixaram na história os nomes de Anhanguera, Borba Gato e outros grandes caminhadores. Os modernos bandeirantes da Missão Cruls que em 1892, cumprindo uma determinação da primeira constituição republicana, caminharam mais de 11 mil quilômetros para demarcar o quadrilátero onde seria construída a nova capital do Brasil, Brasília. O Marechal Candido Rondon caminhou mais de 21 mil quilômetros para ligar por telegrafo o norte ao sul do país e Luis Carlos Prestes andou mais de 36 mil quilômetros, levando a esperança de um país legal e justo com a Coluna Prestes, lutando contra a Ditadura de Vargas. Temos a tradição dos grandes caminhadores.

O Presidente Juscelino Kubistchek, que em apenas três anos e um dia construiu Brasília a nossa capital definitiva, formulada pelo gênio do urbanismo Professor Lúcio Costa, lançou na imensidão do Planalto Central a nova capital do Brasil, a nossa cidade jardim onde os caminhadores pudessem andar livremente sob os pilotis dos prédios elevados, traçar o caminho das calçadas sobre os gramados.

Unindo o projeto do Professor Lucio Costa e a nossa tradição de caminhadores, onde foram parar as calçadas de Brasília? O comércio usurpou a concessão do espaço de circulação dos caminhadores, chamados de pedestres, consagrados desde os tempos dos acampamentos definitivos de Ur e de Jericó. Elas estão tomadas por puxadinhos para a venda de mercadorias e escondem degraus e buracos. Muitas quadras merecem uma tarefa a qual poderíamos chamar de Processo Sobre a Cidade (filme de Luiggi Zampa do neo-realismo italiano). O projeto urbanístico do Dr. Lucio Costa é generoso demais diante a ganância e a apropriação do bem publico. A população de Brasília espera que os administradores não venham a ser acusados de incúria. Não façam vista grossa e não tenham medo de cumprir uma tarefa que lhes cabe. É inaceitável qualquer justificativa para não fazer cumprir a lei. Mãos à obra. Brasília é um bem do Brasil e da Humanidade.

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